sexta-feira, 28 de novembro de 2008

todo mundo tem um pouco de VCB

Muitas pessoas desejam mais da vida e não sabem exatamente o que é. Sabem que tem que haver algo mais interessante, mais romântico, mais apaixonante, mais realizador. Outras, simplesmente, se contentam com a vidinha que têm, vivem felizes assim e ponto. Só que, no fundo no fundo, ninguém nunca está completamente feliz e quer um pouco das duas coisas: amor estável e paixão arrebatadora.
E daí que Woody Allen me fez parar pra pensar sobre isso enquanto assistia à Vicky Cristina Barcelona, pra mim o melhor filme do diretor em tempos. As observações espirituosas, o humor e as idiossincrasias marcam VCB, que também tem pontos fracos, claro, como a narração em off da história que, confesso, dá um pouco de sono (um cara atrás de mim até roncou na poltrona). Paradeira que dura até a entrada de María Elena, interpretada pelo furacão Penélope Cruz (que dá mais um banho de atuação) linda, louca, maravilhosa e que tira o fôlego. Seja pedindo Vodka, dando tiros para o alto, chorando, tentando se matar ou intercalando tão bem inglês e espanhol, Penélope mostra mais uma vez que não tem medo de nenhum papel que lhe oferecem. O resto do elenco dá conta do recado também e faz a gente se indentificar assustadoramente com algumas situações...
Vale a pena ver, não só pela bela música Barcelona (de Giulia & Los Tellarini) ou pelas e as imagens da cidade espanhola que funcionam como um colírio para os olhos. Mas pela forma como Allen descomplica o amor justamente por aceitar a maluquice e irracionalidade que fazem parte dele. Afinal, de Vicky (Rebecca Hall), Cristina (Scarlett Johansson), Juan Antonio (Javier Bardem) e María Elena todo mundo tem um pouco!
Calma lá que eu não vou ficar chovendo no molhado e falando sobre a história do filme blá blá blá (quem quiser, faz isso aqui aqui ou aqui). Só digo uma coisa: se você ainda não viu, o que está esperando?

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Em tempo: se você viu o filme e gostou, vale a pena dar uma lida no Diário de Filmagens de Woody Allen, publicado no New York Times. Pra variar, o texto é cheio de piadas e gozações. Entre outras "confidências" de bastidores, Allen conta que Scarlett e Penélope se apaixonaram por ele, que Javier é um ator burro e que já prepara seu discurso de aceitação do Oscar.
Olha isso!

Vicky Cristina Barcelona

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o beijo da mônica e do cebolinha

É... as coisas mudam! E daí que até a Mônica se rendeu aos encantos da paixão e finalmente desonrolou seu caso com o Cebolinha!! Depois de décadas trocando coelhadas, os personagens finalmente partiram para um belo de um beijo romântico. Sim, o episódio está no quarto número da HQ Turma da Mônica Jovem, que retrata a turminha com 15 ou 16 anos.

Que as coisas mudam quando a gente cresce, eu já sabia!!! Só não imaginava que as figurinhas indefesas do meu gibi preferido (quando eu media menos de um metro) fossem pelo mesmo caminho! Além do beijo pouco provável, a nova fase da turma traz um Cascão crescido e que toma banho, mas não sempre; uma Mônica que fez regime e deve botar silicone em breve e um Cebolinha, agora chamado de Cebola, que recorreu a sessões de fonaudiologia e só troca a pronuncia dos “r”s pelos “l”s quando está nervoso.

Segundo o pai de tudo isso, Mauricio de Sousa, esse é o primeiro beijo da Mônica e do Cebola e as mudanças não param por aí. "Já houve bitoquinha de criança, no rosto, mas beijo de paquera e de começo de namoro é o primeiro".

Eu só espero, de fato, que esse romance pare nas bitoquinhas! Imagine só: "Turma da Mônica" - censurado para menores de 18?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

um maníaco em minha vida

Moço: Desculpa... moça. Mas eu preciso muito tomar um café com você.

(Juro que pensei que o cara fosse tirar dois conjuntos de xícaras com café da bolsa e perguntar se eu queria com açúcar ou adoçante). Parei, com olhos esbugalhados, na esquina da Augusta com a Paulista! Olhei pros lados como que indagando se aquela conversa sem pé nem cabeça era comigo mesma... Afinal, em uma terça-feira pouco movimentada, quase 9 da matina, a caminho do trabalho, com figurino batido, cabelos desengrenhados e cara de sono, era pouco provável que isso fosse verdade!
Eu estava enganada. Era comigo que o sujeito falava... ó céus!

Eu mesma - Desculpa, mas é comigo que você tá falando mesmo? - falei já rindo horrores.

Puxando um fiozinho de lembrança, bem que eu tinha reparado que um doido meio mal vestido e com barba por fazer me olhava já no primeiro vagão do metrô, onde sempre fico. Mas, na hora não pensei que ele pudesse ser um maníaco-do-metrô-que-oferece-café-para-moças-indefesas-a-caminho-do-trabalho. Além do que, não temos muito pra onde olhar quando estamos no trem e, por isso, achei que fosse apenas impressão. Na saída do vagão pensei a mesma coisa quando subia pelas escadas rolantes e o talzinho subia pelas escadas normais e me olhava. Será que meu dente estava sujo? Meu cabelo, MUITO bagunçado? Achei melhor nem ligar...

Moço - Tô falando com você sim. É que, tipo assim (ô mania de paulistano!), eu reparei em você e PRECISO muito tomar um café com você, pra te conhecer melhor.

Eu mesma - (Hahahahahahahahahahaha), pensava eu sobre essa nova abordagem dos homens...

Eu não sabia se eu olhava pro lado e pedia ajuda, se ligava pra algum amigo vir me ajudar ou se dava um tapa na cara dele e saía correndo pela Paulista.

Moço - Olha só: você tá indo pro trabalho agora, eu tô indo pro trabalho agora... Por favor, qualquer dia desses, depois do expediente, tipo assim...

Eu mesma (de novo) - Hahahahahahahahahahaha

Moço (sério) - Me passa seu celular??

Eu mesma (nada séria) - Peraí, mas é um assalto então?, tirando onda com a cara do Sr. Como Paquerar Na Rua Todo Dia de Manhã.

Moço - Não. Por que?, disse. (oi, ele não entendeu a piada?)

Eu mesma (desenhando) - Porque você me disse pra "PASSAR" o celular... não o número do celular, entendeu?? hahahahahahahaha (M-U-I-T-A risada)

Cri cri.
É ele não entendeu. Chega! Se o cara quer dar uma de Don Juan em plena 8h54 de uma terça, tem que ser esperto e criativo, pô! Verena, acaba logo com isso... Fiz minha melhor cara de brava (rindo por dentro), olhei pro relógio e:

Eu mesma - Olha isso é loucura. Você não me conhece, tô indo trabalhar...

Moço - Não seja por isso. Meu nome é Tiago. E o seu é...?

Não, não acabou... E eis que o Tiago pegou na minha mão e me lascou um beijo no rosto. Oi? Que parte eu perdi? Daí que reparei que podia tirar um onda com tudo aquilo e ter alguma coisa engraçada pra contar... sei lá.

Eu mesma - Então, me chamo Iara com I... (rindo por dentro)

(Sempre quis me chamar assim... ok, mentira! Não curto esse nome de sereia)

Tiago - Legal, Iara... Posso anotar seu número? Porque, tipo assim, eu queria muito te conhecer. Vai, por favor??

Titubeei um pouco e pensei em como seria engraçado passar o fone de alguém que merece levar uns trotes! Além disso, Tiago tinha que pagar por não estar me poupando de tanta besteira logo cedo...

Eu mesma - Claro, anota aí....

Só assim o famigerado Tiago me deixou ir embora e caminhou saltitante pela Augusta, como quem certamente ia contar pros amigos que conquistou o que queria. Mal sabia ele que eu tinha passado o número do meu ex-namorado... ;)
Boa sorte, Tiagão Juan Antonio, beijoNÃOmeliga, ok?

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PS - Quando cheguei no trabalho, cruzei as informações sobre o tal Tiago com as do maníaco que quis "tomar um café" com uma amiga uma manhã dessas também. Constatamos que, sim, ele é um maníaco-do-metrô-que-oferece-café-para-moças-indefesas-a-caminho-do-trabalho.

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Moral da história 1: Não mexa com uma mulher logo de manhã.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

São Paulo, 25 de novembro de 2008.

Minha querida,

Hoje é seu dia mais uma vez e bem sei o quanto você gosta de comemorar suas novas primaveras... E, também por isso, mais uma vez uso o meu 25 de novembro para lembrar de quando nos conhecemos e de como temos nos tornado mais e mais próximas, mesmo há exatos 540 quilômetros de distância.
Quando te vi pela primeira vez, seu rosto contabilizava somente umas 13 sardas marrons que se destacavam na combinação com o cabelo muito loiro. Contei uma a uma, sim. Ninguém sabe disso, só você agora. Elas se espalhavam apenas abaixo dos olhos, no centro da bochecha, parecendo um blush em forma de bolinhas esparsas. Eu era pequena ainda, mas nunca esqueci como seus olhos, com a forma de duas jaboticabas e a cor de castanhas, não sabiam onde olhar primeiro. Da mãe pro pai, do pai pra irmã, da irmã pro travesseiro já batido pelos apertões que você dava nele, seu "Panãno.
Diferente de mim, você demorou pra começar a falar e sua forma mais prática de comunicação era chorar quando queria que o Panãno secasse rápido no varal. Mas você era muito esperta (e é). Nos restaurantes, costumava deixar a mãe desesperada quando sumia da mesa e voltava sorrindo nos braços de um garçom que, desavisado, havia lhe tirado da cozinha. De anjinho, só tinha os cabelos enroladinhos mesmo, que lhe renderam até um apelido carinhoso.
Lembro também, ainda com aflição, quando você (com apenas meia dúzia de anos) desapareceu de perto de nós naquela loja no meio do calçadão e cheia de gente fazendo compras de Natal. Evaporou! A mãe cumpriu o protocolo e se descabelou, a vendedora rezou e eu não sabia o que fazer, chorando, claro. Até que lhe encontrei numa gôndola de sapatos, provavelmente, observando as cores que você ia preferir quando crescese e se tornasse esse mulherão que tem mais personalidade do que juízo. Abracei você bem forte com um medo danado de perder o que você é, sua companhia silenciosa e suas sardinhas. Elas que aumentaram em profusão conforme chegaram seus aninhos!! Hoje você tem mais de 100 e elas ocupam sua testa, suas bochechas inteiras, nariz, olhos, queixo e sobram algumas até para seus lábios. Tomaram seu corpo na mesma proporção que a beleza, uma beleza bem genuína e sincera, que reflete o que você é.
Acontece que crescemos (você, até mais que eu), seguimos caminhos diferentes e, infelizmente, já não consigo mais contar as suas pintinhas. De longe, tento apenas administrar o medo que ainda tenho de perder sua companhia, seus olhos de jaboticabas ávidos por um conselho, seus cabelos longos e que mudam sempre de cor, e suas pontas dos dedos hereditariamente quadradas.
Minha sorte é que, apesar da distância, nossa relação ganha uma dimensão cada vez mais bonita. Seja no silêncio da madrugada quando você me busca na rodoviária ou no barulho do boteco em que a gente senta pra fofocar, aprendemos muito uma com a outra sem nem perceber. Assim, me orgulho muito de ser sua irmã, amiga, companheira.
E então só me resta desejar, mais uma vez, que sua vida seja a mais colorida possível e que você consiga enxergar ao menos um arco-íris por dia, apesar dos problemas que insistem em acontecer e que nos chateiam tanto. E, quando você não ver a luz no fim do seu túnel, conte comigo pra achar uma forma mais fácil de transformar os imbróglios em passos de uma música trance (que você tanto gosta e que até tentou fazer com que eu gostasse).
Te amo mais que o arroz-doce da mãe.
Se cuida sempre.
Um beijo,


Tábata, 21 anos e mais de 100 sardinhas no rosto.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

docinho de coco

E daí que chegou o dia tão esperado. Andei muito chão pra chegar lá e, depois de escolher um vestido que não me deixasse parecendo um colchão amarrado no meio, arrumar confusões no cabeleireiro, acalmar a noiva cheia de rolinhos no cabelo e tomar um lanchinho pra forrar o estômago, lá estava eu: vendo e testemunhando o que talvez seja um dos passos mais sérios da vida de uma amiga muito querida: o seu casamento.

A cada passo que a Ana dava rumo à sua nova vida, pensava como eu torcia pra essa união dar certo. Mesmo! O Gian, o noivo, estava com um sorriso realmente diferente, com o contorno dos lábios que ia de uma orelha à outra. A Ana, linda linda linda, deixava rolar uma lágrima de canto de olho conforme entrava na igreja de braço dado com o paizão (que parecia um bebê chorando). O beijo na testa, as flores, velas, música, um clima de festa, amigos amigos amigos. Coisa linda de ver. Benção pra lá, benção pra cá, eles viraram um do outro. E, vejam só, fizeram isso numa época em que poucas pessoas acreditam no tal casamento. Admirável, eu acho.

E então que, confesso, não pensei que ficaria tão comovida quando visse a Ana impecável entrando na igreja... com o pai dela. Mesmo já sabendo que aquilo tudo é apenas uma simbologia, chorei feito uma criança que cai durante a partida de bola queimada da escola. Como essa criança, sei que ainda vai doer um pouco até o machucado parar de sangrar. E eu percebi que vai demorar um tempo até eu ter um progenitor de volta pra chamar de meu e, quem sabe, entrar na igreja comigo no dia de um (pouco) provável casamento. Mas isso é outro post... tá tudo bem, respira fundo! 3, 2, 1.


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Fora isso, o final de semana foi regado com muita risada, algumas lágrimas de canto de olho, amigos tão antigos como os bares e as lanchonetes preferidos, visita à antiga UEL, família com abraço apertado, amigo secreto pro Natal, reza antes do almoço e coisas desse tipo. Coisas que fazem a gente lembrar como é bom voltar pra casa. Sempre!!


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Madrinhas loucas e a Ana vestida de docinho de coco!!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ontem, enquanto eu passava em frente ao metrô, vi um alguém muito parecido com você. Estranhamente muito semelhante a você, entende? As mãos eram grandes e as pontas dos dedos eram quadradas. O cabelo comprido faltava um pouco atrás, o sorriso era largo, o caminhar era lento, os traços, cansados. O jeito de pegar o cigarro, colocar a mão no bolso, guardar o maço novamente. Igualzinho em você. A camisa branca que você costumava usar também estava lá. Sem tirar nem pôr.
Esse alguém andava pela avenida balançando os braços e conversava com um outro alguém menos interessante. Só tive olhos pra você, ou melhor, pro alguém muito parecido contigo. O papo entre os sujeitos estava animado e isso me fez lembrar de quando conversávamos sem parar na volta do colégio. Você dirigia e eu perguntava qualquer besteira só pra ouvir sua voz e tentar copiar a maneira como você formulava as frases. Você desenvolvia o assunto, eu te olhava. Botava reparo em cada um de seus gestos, seus movimentos com as mãos e as mexidinhas cautelosas no cabelo que já caía (e acho que ainda cai). Quantas abobrinhas eu tive que ouvir só pra suprir essa minha vontade de aprender um pouco mais sobre o que se passava na sua cabeça!
Mas a saudade que tenho da nossa relação descoube no meu peito e me deu a grande idéia de mudar meu caminho habitual pra mirar mais um pouquinho o tal sujeito que copiava seu existir. E lá estava eu: novamente atrás de "você". O estranho sorria, caminhava, olhava para os lados, tragava o cigarro, existia... E, sem perceber, me fazia o grande favor de alimentar minhas lembranças com imagens "suas".
Acontece que eu estava mesmo atrás de coisas que me mostrassem que poderia, sim, ser você. Mas não era. Afinal, faz meses que não nos vemos... A chuva veio sorrateira, o tempo fez meu horário estourar e tive que voltar ao trabalho.
Peguei de volta meu caminho, mas, ao menos, agora eu tinha imagens "suas" fresquinhas na minha memória.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Faz alguns meses que minha vida gira em torno de rodoviárias. Não porque eu amo viajar amassada, encolhida em poltronas fedidas e ouvindo gente roncando do meu lado ou falando muito alto sobre o Corinthians enquanto tento ler o mesmo parágrafo do livro 6 vezes. Mas porque gosto de visitar minha família e, pelo menos enquanto não inventam uma ponte aérea sem interrupções até Londrina, viajar de ônibus é infinitamente mais barato. Por isso, tenho uma vasta experiência com terminais rodoviários. Pelo menos era o que eu supunha, até virar a última página do Livro Amarelo do Terminal, de Vanessa Bárbara.

O livro, que surgiu do trabalho de conclusão de curso em Jornalismo dessa paulistana, retrata detalhes bastante cotidianos do terminal rodoviário do Tietê. Despretenciosamente, Vanessa me conduziu a uma viagem ao interior da maior rodoviária da América do Sul, revelando coisas às quais eu não daria atenção por mim mesma. Onde ficam os ônibus antes de atracar no terminal, como funciona o sistema de som, qual é o faturamento do banheiro, qual é a quantidade de cafezinhos e toneladas de pães de queijo vendidos por ano, quantas pessoas passam pelas plataformas no Natal, como é o serviço do balcão de informações. E vai além, quando deixa de lado o macro revela seu interesse por histórias anônimas - quem são os funcionários e as pessoas que passam por lá, quem vem de muito longe ou vai pra mais longe ainda, quem são os motoristas. Em um dos capítulos, traz uma "história oral do Tietê", feita a partir de fragmentos de conversas colhidas ao acaso enquanto apurava o trabalho. E outros trechos reproduz os recados do locutor Marcos, a voz da velhinha que pára no balcão de informações e pergunta: "Moça, onde é que eu faço inscrição para ir pro Iraque" e registra trechos dos hits musicais do Tietê.

E, se Vanessa me ajudou a perceber que eu não conheço tanto sobre rodoviárias quanto eu pensava, ela também confirmou minha idéia de que rodoviárias são, sim, uma "versão condensada" do mundo. O movimento repetitivo das pessoas que vão-e-vêm, a inconstância, a idéia de massas, a sensação de não-pertencimento, a vontade de retornar ao lugar de partida, o anacronismo dos personagens, a permanência - aquilo que nunca muda. (Igualzinho a mim!).

A partir de agora, vou olhar pra todos os lados sempre que visitar uma rodoviária.

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Em tempo: o projeto gráfico do livro é muito interessante! Com páginas (amarelas) de gramatura mais fina, o livro permite uma transparência maior. Por isso, as letras se sobrepõem um pouquinho e dão o tom da bagunça estética do Tietê. Uma outra parte do livro é feita em páginas que lembram papel-carbono, utilizado em alguns tipos de passagens. Só de folhear já vale a pena!

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Terminal Rodoviário de Londrina - pra onde eu volto sempre que quero sentir o cheirinho da minha mãe, comer feijão e arroz doce, descarregar minhas energias e visitar amigos queridos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Daí que quando eu e a Bárbara éramos pequenininhas, nosso passatempo preferido de primas era a brincadeira com bonecas nos corredores da casa da vó. Barbies, mais especificamente. Beatriz, Isadora, Isabela ou seja qual fosse o nome que arranjávamos para as loirinhas. Improvisávamos tudo pra montar a casinha da boneca: móveis feitos de potinhos de iogurte, bacias serviam de piscina ou banheira, qualquer trapo era roupa de festa, cantoneiras de sofá eram boates, caixas de sapato interpretavam carros e limousines. Passar a tarde na casa da vó era sinônimo de competição pra saber quem construía a melhor mansão.

Tudo girava em torno disso e, de quebra, essa brincadeira era nossa forma de se dar bem na época. É que, quando as Barbies estavam longe, a gente não se bicava muito. Não dá pra explicar. Acho que os anos a mais faziam uma diferença e tanto na nossa relação fora da brincadeira preferida. E além disso, com alguns aninhos a mais, a Bárbara era uma criança chatinha, quase uma filha-neta-prima-etc única. Sabe aquelas crianças que choram só de serem contrariadas? Se ela achava que a casinha da Barbie dela devia ficar aqui, era aqui que ia ficar, senão: "Ô vóóóóó...". Sobrava pra mim, claro.

Apesar de seu geniozinho, Bárbara tinha vestidos lindos, imensos, cheios de babados, rodados - o sonho de qualquer menina com menos de 1 metro de altura. Se ela fosse mais loirinha, podia até ser filha da Xuxa, ao contrário de mim. Eu babava mesmo, até porque no meu guarda-roupa as peças migravam da irmã mais velha ou eram feitas pelas mãos da minha mãe mesmo. Tricô e crochê eram as especialidades e eu tinha vestidinhos de todos os tipos artesanais: o corpete com linha de uma cor só e a saia de tecido estampado ou as blusinhas da capa da revista de modelitos de lã. É claro que era bemmm mais barato e servia, mas a menina dos meus olhos era o figurino da Bárbara.

Ainda bem que crescemos, ela diminuiu os babados de suas roupas (e sua chatice) e eu aboli o crochê da minha vida e cresci tanto que já não dava pra usar as roupas da irmã mais velha (conquistei o direito de ter as minhas roupas!). Mesmo com alguns interesses parecidos, seguimos caminhos bem diferentes. Em compensação diminuímos a distância entre nossas vidas pós-Barbies. Hoje, moramos juntas e nosso passatempo preferido é tomar uma cerveja bem gelada enquanto eu cozinho alguma coisa pra gente comer e ela escolhe a trilha sonora - geralmente composta das mesmas músicas preferidas de sempre (assim como os nomes das bonecas que eram sempre os mesmos).

Mas, mais curioso do que a gente se dar extremamente bem hoje (sem bonecas por perto), é que ela passou a dividir o meu guarda-roupa comigo. E quase sempre ela faz uma visita pros meus cabides... O meu azar é que nem tudo dela me serve! (Ela usa M e eu, G).




Bárbara veste Verena e vice-versa.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tive dores de estômago por causa da agonia. Mais uma vez aquela agonia de viver fraca, o peito estravasado, o choro correndo, o coração na garganta. Pensei em ir até lá, ligar pra ele, mandar uma carta ou até mesmo um matador de aluguel, mas a dor só ia aumentar (faz anos que ela só aumenta - como uma avalanche mesmo). Queria ainda um digestivo potente pra dissolver esses sentimentos podres que brotam no meu estômago e causam essa dor crônica e cortante, toda vez que alguma coisa triste acontece. Como se fosse pouco, a cabeça também desatou a doer - pensei em bolinhas de gude que são feitas de pedra e ficam se batendo dentro do meu cérebro, uma a uma e em câmera lenta. E, pra completar, as olheiras vieram de brinde.

Sabe... no meu carnaval de todo dia, faço parte da ala das meninas que "quebram o coco mas não arrebentam a sapucaia". Mas confesso que, tem horas, que perco não só o fio, mas a meada inteira, e não sei como resolver certos quiproquós medonhos. Só quero paz... entende?

O jeito é respirar fundo, tirar o lencinho de choros da bolsa mais uma vez e olhar pra frente. Quem sabe, mirando um presente mais feliz.

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Pros amigos: beijovaleumaisumavez ;)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Amarelo

Acontece que hoje está chovendo e você não está aqui pra eu te contar mais sobre aquele segredo só nosso. Segredo que está bem guardadinho, junto com as lembranças que tenho do dia que a gente se conheceu lá na ruazinha atrás daquele conjunto de prédios. Rua Aurora,123. Um nome perfeito para um "você e eu" perfeitos.

Acabava a aula e, com os pêlos do corpo arrepiados e a testa ardendo, corríamos pra Aurora pra ser feliz, amar, encostar e abraçar. Época boa. Primeiro amor, lágrimas desaparecidas, coração com um sorriso estralando, meus olhos sempre em busca dos seus olhos, as veias do corpo a todo vapor pra dar conta de tanta pulsação, desejo e, claro, segredo. Quanto mais eu me entregava, mais surgia o meu encanto. Foi lá que trocamos pingentes de coração (como se isso nos fizesse mais um do outro) e nossos próprios corações.

Hoje, pertinho de onde ficava seu carro, floresceu um pé de ipês amarelos. Flores amarelas que pingam sobre nossa cabeça quando passamos com o espírito limpo por baixo do pé. É lindo de ver, sentir e cheirar. Ainda ontem estive lá e uma das pequenas flores choveu no meu ombro. No ombro direito, mesmo lado em que eu chorava todo meu desejo pra você, por você. Embalada pelo cheiro do amarelo, lembrei de quando eu encostava nas tuas mãos e tentava disfarçar a minha urgência, de ter mais paixão. Uma paixão que fazia doer até os poros.

Só a Aurora sabia que o nosso grande segredo é que eu queria mesmo me colar em você.

Queria. Passado.

E então senti saudade da saudade que eu tinha de você.





terça-feira, 4 de novembro de 2008

São milhões de horas de sono. Fiz os cálculos! Pela média, já dormi mais de 69 mil horas na minha vida. São horas demais, porra! Só de pensar na quantidade de livros que deixei de ler ou nas viagens que deixei de fazer pra ficar na minha cama com os olhos fechados e fazendo nada... que desperdício! Ao menos, restam os sonhos que são muitos, e, no meu caso, existem em profusão. É impressionante a quantidade de coisas que enxergo quando estou em estado de sono profundo! De muitos deles nem chego a lembrar - e são os que deixam apenas a sensação de que algo mudou, um furacão passou, mas não sei explicar. Fora isso, vejo coisas bizarras, engraçadas, impossíveis, bonitas, tristes e desesperadoras. Nos registros dessas viagens direto pra dentro da minha pálpebra tem de tudo um pouco. Certa vez, apareci cheia de tatuagens e piercings na casa da vó durante a festa de natal e causei um frisson arrebatador (seria expulsa da família se não tivesse acordado antes). Em outra ocasião, namorei o eminente nadador Cesar Cielo (sim! ui!) e o apresentei pra todos os amigos que o acharam um pé-no-saco. Além disso, já corri nua pela rua envergonhada do que os outros viam, fui a melhor amiga de vários jogadores de futebol, vi alguns dos meus amores remotos darem as caras pra ver como seria se a gente tivesse continuado a escrever nossa história. Fui também a Mary Jane do Homem Aranha 1 e fiz com Fábio Assunção (lúcido) aquela cena com o beijo de ponta cabeça. Vi minhas irmãs e uma amiga-querida morrendo em uma enchente, presas dentro do carro (deste sonho levo apenas a lembrança de ter acordado gritando com o coração na mão e ligando pra saber como elas estavam - detalhe: eram 3 da madrugada). Teve ainda a noite que sonhei, misteriosamente, com o fogo gelando, a neve fervendo, o luar em pleno meio dia e o sol rachando mamona à meia noite. Já vi todo mundo aplaudindo o Hitler (?), bati um papo com deus que não parecia o Tiradentes e usava um par de All Star, plainei pelas ruas de Sampa por cima das cabeças das pessoas apressadas e dirigi no escuro sem saber o que estava a minha frente. Sonhei também que, grávida, via meu bebê nascer dentro da minha livraria preferida - a criança pulava de mim e já ia folhear um livro! =) Sem esquecer do sonho de dar um fora no Brad Pitt (oi?) dizendo que não o achava bonito (mentira!) e, claro, quando quebrei o pescoço e os dedos porque tenho o costume de estralá-los demais. Também já me olhei no espelho e não me vi, fui cantora internacional de sucesso e namorei um rockeiro famosão, além de já ter sido jogadora de vôlei. No último fechar de olhos, noite passada, sonhei que fiz as pazes com o pai e a gente conversava tranquilamente no quintal da casa velha (o tempo estava limpo, a rua vazia e a cerveja gelada). A lista de sonhos sem pé nem cabeça é interminável. Por serem intensas, essas imagens deixam uma pulguinha atrás da minha orelha. Será que elas têm um significado? (Ou será que só servem para rechear roteiros de filmes B?). Por isso, me permito um desvario para fazer a pergunta: e se eu corresse nua pela rua ou encontrasse os antigos amores pra recomeçar velhas histórias? O que aconteceria? Se levo adiante a conversa comigo mesma, posso até concluir que correr nua pode representar o eu como sou, despir-me de certos valores... E sonhar com pessoas queridas morrendo pode ser o medo de perdê-las e a necessidade de dar mais valor a elas. Vou além para concluir que fazer as pazes com o pai pode significar o quanto o estimo e agradeço por ter me dado a possibilidade de existir e sonhar, apesar dos pesares. Não dizem que os sonhos simbolizam diretamente o que estamos dizendo? Então... Talvez, dormir horas e horas durante a vida não seja assim um desperdício tão grande.

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Pra tia: adorei que você ligou. Isso diminui o meu medo de ser esquecida só porque não moro mais na terrinha!
Pra crise global: você pode dar um tempo? Beijomeliga
Põe um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem um samba não...