quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

saudade tem cheiro...

O cheirinho de amaciante entrando pelo janelão lhe causava uma saudade compacta. A casa da vó tinha cheiros características e este era um deles.
Lembrou de como tinha apreço pelos dias em que acordava, ainda pequena, surpresa por ter sido transferida de cama, porque os pais tinham que ir trabalhar e deveria terminar o sono na sala da vó. E o cheiro de café... Ah, o cheiro de café lhe dava asas para um lugar infinito de sabores e cheiros e uma sensação de que nada poderia dar errado.
Quando brincava na descida da garagem, atrás do Corcel vermelho do vô, sentia cócegas na língua com o aroma do bolinho de chuva vindo do fogão. E lá estava ele! Os bolinhos eram sovados com destreza pelas mãos duras da vó, fritos no óleo pelando e jogados em um banho de açúcar e canela na sequencia. Derretiam na boca. Receitinha infalível essa.
Outro cheio impreterivelmente característico era o da máquina de costura dela. Em dias de chuva, quando não podia estender roupa no varal ou lavar o quintal, a vó tocava costurar e remedar toalhas, meias, roupas em geral. Mãos ágeis, óculos enormes na ponta do nariz, os grampos no cabelo. E o cheiro que os fiapos de linhas soltavam entravam pelas narinas e davam uma segurança da vida, o medo ia embora, o dia ficava mais tranquilo.
Hoje, em sua própria casa, cuida para que os cheiros lhe lembrem sempre de onde veio e de como ama a vó, o vô e a família toda.